27/09/2017

PORQUÊ EU?

Quantas vezes ouvimos a pergunta sempre que alguma coisa corre menos bem? Quantas vezes ao longo da nossa vida o fizemos? Creio que ninguém o contabiliza mas serão certamente muitas. Mas será que nos lembramos dela quando algo de bom nos acontece? Será que o fazemos com a mesma ligeireza?
No passado sábado fomos a Fátima e foi ali, naquele local de fé, de oração e de contemplação que surgiu, sem pedir licença: Porquê eu?
De joelhos, de pés em ferida, de corações despedaçados ou repletos de gratidão, as pessoas encontram-se ali sem hora marcada. Todas elas com intenções que só elas saberão. Mas porquê eu? Vejo braços que seguram 16 velas, vejo mãos que seguram apenas uma... todas com a mesma convição, com os mesmos receios, com os mesmos medos e certamente com a mesma fé. Há quem acenda uma a uma, há quem as atire para a pira de uma só vez de forma aleatoria, há de tudo mas no final o simbolismo é o mesmo - um acto de fé. 
Mas porquê eu? pergunto vezes sem conta de mim para mim. Olho à minha volta e vejo rostos marcados pela dor, cheios de esperança, cheios de fé. Rostos marcados pela vida, que historias esconderão? Porquê eu Senhora? Porquê eu mãe? Porque me concedeste esta enorme benção que sinto não ser de todo merecedora (mas que desejava) e ainda por cima a duplicar? Porque me escolheste de entre tantas outras mulheres que anseiam viver este momento de felicidade suprema? A verdade é que não encontro resposta para as minhas questões, apenas um sentimento - GRATIDÃO! Aprendi algures na vida que a gratidão é a memória do coração e o meu transborda desse sentimento.
Não sei porque me escolheste para acolher estes dois seres de luz, não sei porque foi o meu corpo selecionado para os trazer ao mundo mas aceito-o de peito aberto e como missão de vida.

Obrigada por me teres mostrado ali, num local de magia, que o porquê não existe apenas associado a coisas menos boas. Que o porquê deve ser audível acima de tudo quando a vida é generosa. Continuarei à procura de respostas, continuarei a procurar em mim o que me faz merecer tamanha  graça e alimentarei mais vezes a questão me levou a escrever hoje: Porquê eu?

22/09/2017

3 MESES DE NÓS

Falar de vocês e para vocês consegue ser a missão mais fácil e ao mesmo tempo a mais desafiante de sempre. Evitar escrever todos os clichés existentes sobre esta forma de amar incomensurável e no entanto achar que todos reunidos ficarão sempre aquém do que realmente se sente. Vocês são sem sombra de duvida o nosso maior sonho e o mais desafiante de todos os desafios.

Falar de vocês e para vocês é precisamente começar por deixar de vos tratar assim... sei que durante a vossa vida serão muitas vezes chamados de "gémeos", "Twins",... e todos os outros sinónimos  que significam que escolheram o mesmo dia e a mesma hora para nascerem, sem que se preocupem em usar o vosso nome próprio. Nada há a censurar pois nós pais muitas vezes caímos nesse facilitismos e por isso mesmo temos de nos corrigir... Francisco e Pedro, o nosso sonho materializado em dois seres humanos pequeninos.

Falar de ti e para ti Francisco é falar da tua impaciência, essa característica que herdaste da mãe e que certamente te trará algumas agruras ao longo da vida. É falar da tua genica e vontade de engolir o mundo com tanta vontade que tens de o conhecer. É falar das birras ao final do dia que são uma enorme interrogação para nós, que a todo o custo tentamos superar e que vulgarmente chamamos de cólicas. É falar dos teus puns mal cheirosos  (meu deus filho como é possível conseguires tamanha proeza) e da cara de não é nada comigo (quase que assobias para o lado) quando tens a fralda suja de cocó. É falar do teu sorriso rasgado que nos preenche todas as duvidas e incertezas. É falar dos sons que fazes como que a dizer que estás aqui e que queres que te oiçam. É falar dessa mania de te tapares com fraldas, mantas e afins para que o sono tome conta de ti (e matar aos poucos esta que te colocou no mundo). É falar do teu corpo pequenino e espevitado juntinho ao meu. Falar de ti meu amor é falar de uma parte de mim que eu desconhecia e que agora ganhou forma. Temos tanto para descobrir, tanto por partilhar, juntos...

Falar de ti e para ti Pedro é falar dessa calma aparente que emanas, essa forma de estar que certamente veio do teu pai e que eu desconheço. É falar dessa tua incapacidade de chorar e que vais substituindo por um miar constante que tanto nos arranca sorrisos. É falar dessa carinha que fazes de desgraçadinho que nos faz derreter o coração e nos faz querer apertar-te e proteger-te de tudo e de todos. É falar das mãozinhas que juntas junto ao peito quando estás a fazer o teu cocó (quando nos convertemos em pais a escatologia entra definitivamente na nossa vida e no nosso dia a dia). É falar do som que fazes quando tens a tua chucha e que nos faz sorrir. É falar do nome que carregas e que me lembra com uma saudade imensa alguns homens da minha vida e que partiram demasiado cedo (e que felizes ficariam de te conhecer... que felizes estarão a ver-te lá bem do alto).É falar dessa pequenina imperfeição com que nasceste e que já faz de ti um guerreiro, um lutador e um resistente. Falar de ti meu amor é falar de um sentimento que eu sabia existir mas que nunca vivera. Juntos seremos tanto meu amor. Juntos seremos tudo o que desejarmos.

Falar de vocês e para vocês, hoje no dia em que comemoramos o terceiro mês da vossa existência, é tao simples e ao mesmo tempo tao complexo. Vocês são todas as palavras do dicionário e ao mesmo tempo nenhuma, pois todas serão poucas para vos descrever. Adjetivar-vos é uma missão herculana para qual julgo não estar preparada.

Falar de vocês e para vocês é falar do amor na sua versão mais pura e animal. Amamos-vos com todos os nossos defeitos e todas as nossas virtudes. Que venham mais meses, mais aventuras, mais desconhecido, mais desafios... juntos chegamos onde quisermos.

Parabens meus amores pequeninos!






20/09/2017

O QUE PEDI A NOSSA SENHORA EM PEREGRINAÇÃO

É a primeira vez que falo nisto. Na verdade é a primeira vez que sinto necessidade de o fazer.
Foi com uma cabeça e um coração desorganizados que decidi ir em peregrinação. O desejo de rumar a Fátima era antigo mas naquele momento o desejo aliou-se à necessidade. Estávamos próximos de tomadas de decisão importantes e eu sentia que precisava do coração limpo de amarguras e rancores e a cabeça com o máximo discernimento. 
Era fácil, demasiado fácil, pedir à mãe de todas as maes que me guiasse rumo à fertilidade. Eu sei que a maioria se lhe dói a cabeça, pede para que a cabeça pare de doer; se têm alguma doença, que essa doença desapareça; é mais ou menos esta a lógica certo? Comigo não foi assim... Eu nunca achei justo pedir  tal coisa. Ser mãe é ser escolhida. Ser mãe é deixar que o nosso corpo aceite receber novas vidas e isso não se pode pedir. Não seria justo, pensava eu.
Então por onde andaram os pensamentos durante a minha peregrinação? Primeiro que tudo revi mentalmente tudo o que me incomodava, abri todas as gavetas outrora fechadas e revi uma a uma, pensei repensei e agradeci tudo o que de bom existia (mesmo nas situações aparentemente menos positivas). Agradeci quantas vezes me lembrei. Agradeci muito. Mas como não sou um ser perfeito (longe disso) também cedi ao pedido. Também cedi a pedir uma coisa muito particular à Nossa Senhora... fiz um único pedido a esta senhora de luz: "Senhora ajuda-me a aceitar tudo o que tens para mim, aceita-me a receber bem tudo o que a ciência e a natureza têm reservado para nós. Senhora não faças de mim uma pessoa amargurada, uma pessoa rancorosa. Ajuda-me a usar as contrariedades e a partilhá-las com outros para que juntos consigamos superar as dificuldades da luta pela fertilidade. Senhora ajuda-me (simplesmente) a aceitar tudo!"

Seis meses depois estava grávida de gémeos. 

Seis meses depois estava mais do que decidida que o egoísmo de guardar todos os momentos de dor teriam de ser partilhados para que outros se pudessem rever e quiça ajuda-los algures nos seus caminhos.

A Senhora foi generosa. A mãe de todas as mães ouviu-me e num ato que nunca entenderei mas que aceito numa gratidão incomensurável fez de mim mãe de dois seres pequeninos que amo mais do que a vida.

Obrigada mãe. A gratidão é a memória do coração e o meu terá tatuado para todo o sempre esta nossa caminhada de fé, dor e gratidão e a certeza de que voltarei... sem promessas (como da primeira vez) mas regressarei a ti.

18/09/2017

OBRIGADINHA SIM !?!?!? #4

Queria agradecer a todas as marcas de roupa de recém nascidos e crianças em geral o facto de colocarem carradas de etiquetas bem cosidas (não vão elas na loucura sair à primeira lavagem)quando sabem de antemão que todas serão retiradas da roupa... estou ha mais de uma hora nisto!

E confesso que há uma marca portuguesa que eu adoro mas que já vou passar a olhar de esguelha sempre que tropeçar nela só de pensar nas etiquetas que tenho de retirar... marcas mais atenção a este pormenor sim?

Ass Mãe de gémeos à beira de um ataque de nervos (e com um tesoura na mão)

11/09/2017

AGUENTA CORAÇÃO

O Pedro foi o primeiro a nascer. É o mais velho por um minuto. Desde cedo se colocou em posição para nascer o que me faz pensar que é persistente e focado. Quando nasceu logo foi comparado ao irmão (creio que será algo inevitável ao longo das suas vidas) e foi apelidado de molengão, preguiçoso e pastelinho. Os pediatras que os iam avaliando nos 5 dias em que estivemos internados constataram o mesmo - o Pedro apenas leva mais tempo a fazer as coisas.

Na consulta do primeiro mês a nossa pediatra (pessoa super atenta e que nos leva a pensar todos os dias que o nosso instinto estava certo ao escolhê-la) achou que o Pedro tinha a cabeça achatada num dos lados e aconselhou-nos a usar a almofada Mimos para corrigir esta pequena deformação. Todos os dias o Pedro usou a almofada por muito que resmungasse sabíamos que era para o bem dele e levámos isso como uma missão.

Na consulta do segundo mês a Dra. Manuela achou que a almofada não seria suficiente para corrigir a sua cabecinha e que aconselhava uma consulta com um fisiatra para fazermos uma avaliação mais aprofundada. O nome da Dra. Ana Souto surgiu de imediato e logo logo tivemos consulta com ela para avaliarmos o nosso primogénito. Diagnostico - a confirmação da plagiocefalia e um torcicolo (afinal a preferência que o nosso pequenino tinha por um dos lados tinha estes nomes feios). São palavras que não queremos associadas a um bebe tao pequenino e pelo qual lutámos tanto. Ficou decidido que iriamos avançar com 12 sessões de fisioterapia e depois faríamos nova avaliação.

Saímos do hospital da luz com uma carga pesada... as palavras eram demasiado pesadas para nós. Eu, mais do que o João que tem uma forma mais descontraída de encarar as coisas (mas não menos preocupada), fui logo investigar o que era isto da plagiocefalia e do que ela pode significar na vida do nosso pequenino e na nossa. Fui reler também toda a historia do pequenino guerreiro Vicente da queridíssima Marta Moncacha (blog DOLCE FAR NIENTE) para saber o que poderíamos ter entre mãos. Não é fácil aceitar que um ser tao pequenino poderia ter de ser sujeito a tratamentos tao agressivos (aparentemente) mas a verdade é que são tratamentos mais violentos para nós do que propriamente para ele.

Na fisioterapia são as mãos da terapeuta Rita que lhe tocam, que mexem e remexem, que o provocam com as suas musicas, com as suas diferentes rocas que o estimulam... mas tudo é lento. As melhoras não são logo visíveis (toda a gente nos avisou e avisa para isso)  mas a verdade é que os exercícios que vemos serem feitos ao nosso pequenino servem também para nós aprendermos e repetirmos com os dois em casa. E sim há melhoras... pequeniníssimas mas há melhoras no que toca ao torcicolo e o Pedro já move mais a cabeça para o lado esquerdo (a tendência dele é de olhar sempre para o lado direito).

Mas os corações dos pais precisam sempre de esgotar todas as hipóteses, precisam de uma confirmação de que estão a optar pelo mais correto e por esse motivo procurámos a Dra. Paula Rodeia (neuro cirurgia que seguiu o Vicente no seu tratamento). Hoje foi o dia de nos conhecermos, de percebermos o quão doce e profissional é esta medica que o acaso nos colocou no caminho e de alguma forma apazigou um pouco os nossos corações quando disse que a equipa de fisioterapia que nos acompanha é a que ela nos iria aconselhar. O Pedro tem uma diferença de 12mm de uma orelhinha para a outra, tem um achatamento que existe do meio da cabeça para trás (perdoem-me as palavras menos técnicas mas aqui é apenas uma mãe a falar e não uma medica) mas que em nada irá afetar o seu desenvolvimento e lado cognitivo poderá, no entanto, se não for corrigido provocar problemas ao nível da visão, dos ouvidos e dos maxilares. Congratulou-se por sermos pais atentos e aos 2 meses ja estarmos a tentar resolver este problema (o mérito não é todo nosso mas sim da pediatra atenta que escolhemos) e marcámos nova consulta para daqui a um mês. Nessa altura vamos ver se as medidas que agora foram  tiradas têm alterações e ajustamos as medidas a tomar. O capacete, para já, não é opção.

Sabemos que a luta pelo bem do nosso pequenino ainda está longe do fim mas temos no nosso coração a certeza de que estamos a fazer de tudo para que ele fique o melhor possível.

É tempo de apaziguar o coração e agradecer à mãe de todas as mães todas as bênçãos.

nota - foram varias as pessoas que nos falaram na osteopatia e eu não ignorei essas recomendações porém confesso que me assusta ter um terapeuta a mexer nos ossinhos do crânio do nosso bebe sendo ele tao pequenino... para já prefiro que lhe mexam apenas no pescoço. Para já... fica adiada a osteopatia.

05/09/2017

COISAS QUE ME ENCANITAM #19



O que vos trago hoje é possivelmente das coisas que mais me encanitam, me irritam, me tiram do sério, me incomodam, me intrigam, me fazem questionar as amizades, enfim... já perceberam a ideia certo?

Quem é que ainda não ouviu o clássico "Não vos dissemos nada porque achámos que não iam conseguir ir" ou "Não vos ligámos porque de certeza que não têm tempo"  ou ainda "Fomos aqui e ali mas não dissemos nada porque vocês estão super cansados"... mi mi mi mi mi  e pagarem-nos as contas já que NÃO CONSEGUIMOS, NÃO TEMOS TEMPO E ATÉ ESTAMOS CANSADOS?Hum?? Pois...

Agora com menos sarcasmo: agradecemos de coração a preocupação de todos mas lá porque somos pais de gémeos não quer dizer que não gostemos de nos sentir queridos por todos e de achar que (ainda) conseguimos ter vida social. Na duvida digam alguma coisa... não assumam!


04/09/2017

FRANCISCO "O REVOLTADO" VERSUS PEDRO "O CALMO"




Desde o momento em que descobrimos que estávamos grávidos de gémeos que começou a crescer um medo dentro de mim: " e se eles forem tão parecidos que não os consigamos distinguir?" (em recém nascidos é mais difícil certo?). Sabíamos que eram gémeos falsos, duas bolsas diferentes, porém, nós conhecemos dois gémeos falsos que são tao parecidos que nem dá para acreditar.
Como qualquer mãe que não gosta de ser apanhada desprevenida fui procurar testemunhos de pais que tivessem passado por isto e de facto o ser humano é muito criativo: desde pintar uma unha mal eles nasçam, a colocar uma fita no pulso ou no tornozelo, vale quase tudo para manter a identidade correta nestes seres pequeninos que acabam de chegar ao mundo. Talvez por isto alguém lá em cima decidiu facilitar a nossa missão de pais recentes e fez com que o Francisco e o Pedro fossem não só diferentes na personalidade como no especto físico.

O Francisco tem a testa alta, cabelo fininho e revolto, narizinho arrebitado e rosto redondo (os olhos ainda são um tabu mas devem ser castanhos). Veio mais tarde (1 minuto) e talvez por isso ávido por aprender. É irrequieto, agitado, resmungão, tenta conversar do alto dos seus 2 meses. Precisa de atenção, do seu docinho na chucha para acalmar, da sua fralda a tapar-lhe o rosto (e aqui quando menos ficar de fora mais aconchegado ele se sente e mais preocupados nós ficamos), sorri para nós esporadicamente e derrete-nos o coração com a sua energia. É o único bebe que conheço que se faz ouvir com um "buáaaaaaa buáaaaaa" que eu achava apenas existir na banda desenhada brasileira que liamos nos anos 80/90. Faz uso (muito bem) do seu charme e lagrimas para passar à frente do irmão.

O Pedro é mais moreno, de cabelo liso e escuro, testa curtinha e narizinho arrebitado como o irmão, mais cabeludo (coitadinho saiu macaquinho como a mãe) e os olhos também não reúnem consenso mas são nitidamente mais claros que os do irmão. É o mais velho (1 minuto). Sereno, não sabe chorar e emite uma espécie de miado ou gemido. É capaz de estar nisto durante muito tempo até que... dispara num grito dilacerante (até o mais santo dos santos tem limites certo?). Gosta de dormir com a sua mãozinha coladinha aos nossos dedos. Faz o beicinho mais irresistível de todos e franze as sobrancelhas bem ao estilo da sua mãe (um charme) quando algo o intriga. Nasceu com uma cabecinha que nos tem trazido desafios que acreditamos superar curto médio prazo. É o nosso herói pequenino.

São dois bebes que pouco têm diferente de tantos outros mas que para nós são em TUDO diferentes. São nossos. São o NOSSO SONHO materializado. E os sonhos quando são materializados são para ser vividos na plenitude e por isso acreditamos que tudo irá ficar bem. A fé e a ciência mais uma vez vão andar juntas e abraçar o nosso pequenino rumo à vitória.

Assim são o Francisco e Pedro aos 2 meses de idade!

design

design by: We Blog You