27/07/2017

VISITAS NO HOSPITAL VERSUS VISITAS EM CASA

Vamos lá abrir a grande caixa de Pandora no que toca a visitas a recém nascidos!

Ao longo da gravidez foram diversas as vezes que toquei neste assunto sendo absolutamente clara que tinha preferência por uma destas situações: "se têm vontade de conhecer os gémeos nos primeiros dias de vida, desloquem-se ao Hospital e não esperem  por chegarmos a casa". Na altura percebi logo que a minha vontade era fraturante e ouvi logo: "No hospital??? mas em casa é muito melhor...mimi mimi mimi mimi". Pois é, eu não era e não sou dessa opinião. E porquê? Quando saímos de casa éramos dois e quando regressámos já eramos quatro... dois dos quais completamente dependentes, dois seres acabadinhos de nascer, mais recetivos a doenças e a contaminações exteriores, sensíveis aos cheiros dos perfumes da moda. Ora comparando casa versus hospital qual é o local mais seguro para ter alguma reação menos boa? qual é o ambiente mais controlado destes dois anteriormente citados nos primeiros dias de vida?
Mais, no hospital, há um cordãozinho vermelho (assim é no hospital da Luz) que nos permite usufruir dos cuidados de auxiliares e enfermeiras sempre que necessitamos, sejam eles de natureza clinica ou outra. No hospital a "única" preocupação que temos é cuidar dos nossos pequeninos já em casa o filme é outro. Em casa é mesmo a desgraçada que acabou de parir e tem uma costura de 20cms mais ou menos, no fundo da barriga, (pois, também já sei que muitas têm um cicatriz mais pequena e na na na na na... a minha é deste tamanho e é dela que falo) que tem de se levantar vezes sem conta, que tem de colocar o lanchinho na mesa e arrumar a casa para receber condignamente todos os que decidem "aparecer".
Convém nesta altura fazer já uma grande chamada de atenção: eu gosto de receber TODOS e se fazem parte da nossa vida ainda mais gosto terei que façam parte da vida dos nossos filhos. O que eu peço é calma por favor. Ajudem-nos e concedam- nos TEMPO. Tempo para curar o que ha para curar, tempo para criar hábitos entre os quatro, tempo para criar rotinas, tempo para nos habituarmos a esta família de quatro em construção, tempo para sermos as pessoas que sempre conheceram e não dois seres mal dormidos que se arrastam de assoalhada em assoalhada. Simplesmente tempo. E.., falem connosco, não enfiem os barretes que assumem ser para vocês.

Mas voltemos aos pros e contras entre as visitas no hospital e as visitas em casa:

No hospital: de x em x tempo há uma enfermeira que nos trás a medicação e nos mede a tensão para ver se está tudo bem
Em casa: esquecemo-nos de tomar a medicação, de medir a tensão (ainda que tenhamos indicação da medica para procurar um cardiologista pois podemos ter de tomar medicação para o resto da nossa vida), não cuidamos da costura de 20 cms porque quando temos algum tempo estamos tao cansadas que só queremos descansar

No hospital: escolhemos o menu que queremos e a horas certas lá vem a comida maravilhosa que nos proporcionam (sim a comida no Hospital da Luz é optima)
Em casa: esquecemo-nos de descongelar os alimentos que ainda teremos de cozinhar no tempo "livre" que sobra depois de cuidar dos pequeninos.

No hospital: apenas temos de nos preocupar em mudar fraldas e acordar de 3 em 3 horas para alimentar os nossos bebes com o suplemento que já nos entregaram (bem como as compressas e os resguardos)
Em casa: ui em casa a realidade é acordar de 3 em 3 horas (ja sei que ha bebes que acordam só de 4 em 4 horas, e outros até que nascem e dormir a noite toda mas.... são prematuros? são gémeos? nasceram com peso a menos? comparem o comparável e não umas calças pretas com umas brancas sim?? é que serão sempre diferentes) durante uma hora mais ou menos preparamos (sim os dois temos tarefas) o leite, mudamos fraldas 1, 2 ou até mesmo 3 vezes cada um por mamada, damos o leite, mudamos roupa as vezes que são necessárias, mudamos roupa de alcofa ou de cama caso tenham bolsado,... posto isto colocamos os pequeninos para dormir... pode demorar um segundo ou 1 hora. Poe chucha cai chucha  Poe chucha cai chucha Poe chucha cai chucha e depois ficamos com o tempo que sobra para... tratar da roupa deles, tratar da nossa roupa, fazer a tal comida que imaginem só ainda não conseguimos dispensar, fazer a higiene pessoal, fazer as compras da casa, arrumar e limpar a casa, responder a todos os emails profissionais e mensagens (é verdade a pessoa é mãe mas ainda tem uma profissão paralela), atender todos os telefonemas e responder a todas as mensagens queridas que nos enviam e por fim... por fim descansar. Opsss não!!! Afinal ja passaram as 3 horas e vai começar tudo de novo.

No hospital: conseguimos realmente descansar 1 a duas horas entre mamadas
Em casa: NAO!

No hospital: a mãe é um ser humano e tem uma medica (a sua obstetra) que se preocupa com ela e que faz questão de dizer "eu só quero saber do bem estar da mãe"
Em casa: a mãe é a cabra que impõe regras para quem quer visitar os filhos, que não atende telefonemas e não responde no segundo seguinte às mensagens que chovem de todo o lado, que está com olheiras e de roupa manchada de leite quando (imaginem só) está em casa o dia TODO (o que fará ela o dia todo? deitada a ver televisão de certeza).

No hospital: fizemos anos de casados e partilhámos dois salames de chocolate que tirámos de uma vending machine
Em casa: fiz 42 anos e tive de organizar eu própria um jantar para a família mais próxima (porque não tinha força nem coragem para mais)

Se eu trocava tudo isto pela vida que tinha ha meses atrás? JAMAIS. Ter os nossos pequeninos nos braços é um sonho convertido em realidade. É viver um sonho de olhos abertos e esperar que ninguém nos acorde. Este texto tem apenas como finalidade alertar para o facto de que muitas vezes não ha depressão pós parto mas sim uma verdadeira pressão pós parto. Eu sinto-me pressionada por todos. Ninguém em particular mas por todos. Acima de tudo por mim, confesso, que procuro sempre a perfeição quando a vida não é de todo perfeita e até pode ser bem mais feliz quando aceitamos os erros e as falhas. Este texto é apenas para que sejam condescendentes quando do outro lado ha alguém que não vos atende, quando ha alguém que vos diz "não nos dá jeito que venham cá por isto ou por aquilo", quando demora algum tempo a responder às mensagens,...

Sempre gostei de gostar das pessoas que escolhi para me rodear... todas me fazem falta, cada uma à sua maneira e a todas sou grata pelo INCOMENSURAVEL carinho que nos têm feito chegar mas... estou cansada de sentir esta culpa que me é induzida por ser a cabra que anteriormente referi e pelos motivos que elenquei! Estou muito cansada e peço apenas que sejam pacientes comigo e que me deixem encontrar neste papel que sempre desejei mas que me é totalmente desconhecido.

Eu sei que se gostam de nós, de mim, vão entender que estas palavras não são para ofender, para ferir, para acusar, para apontar dedos... vão entender que eu apenas curo o que escrevo e eu preciso de deixar que tudo isto saia de mim para eu, para eu simplesmente, voltar a ser eu!

nota- importante dizer que se não fosse o meu marido e os meus pais (eu tenho mesmo uns pais maravilhosos mas acima de tudo uma SUPER MÃE que ignora as suas dores e problemas para nos ajudar) tudo o que acabei de escrever era infinitamente mais difícil.

4 comentários:

  1. Idem! No hospital até me perguntaram se queria restringir as visitas, tal era a afluência, mas preferi ter toda a gente logo lá e em casa não receber ninguém a não ser que fossem ajudar :)

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  2. Ola Isabel como a entendo :) para ajudar tá quieto... é mais fácil chegar fazer umas festinhas e dizer até qualquer dia. É só mais um sinal do egoísmo da nossa sociedade mas ha sempre honrosas exceções :) Beijinhos coloridos SSF+2

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  3. Sara. Estou contigo quase a 100%. �� Eu também pedi para não me visitarem no hospital. Também tenho uns SUPER pais, a quem devo muito. Também tinha que acordar de 2 em 2 horas ou de 3 em 3. Andei mal humorada pois a privação de sono é tramada. VISITAS!! Não muito obrigada. Algumas de familiares, sim... Mas sem lanche e sem me mexer muito... arrastada no sofá, sim... É uma fase difícil, é uma fase de adaptação aos pequenos e do casal... que quase não é casal... Mas tudo passa e fica mais fácil. Se quiseres a minha visita eu ajudo... Não a lanchar, nem a pegar nos pequenotes... mas sim a arrumar e cozinhar se for preciso. Bjinhos queridas. Estou longe mas perto do vosso ❤️

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  4. Ohhh és uma querida marta... obrigada pela oferta é sempre bom que não somos uns aliens e que há mais quem partilhe desta turbilhão de sentimentos. beijocas e aproveitem bem o nosso Alentejo <3

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