10/03/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #11




23 de Agosto


Os dias parece que nunca mais terminam. São enormes. O sol está mais quente do que nunca e lá fora o mundo continua na sua normalidade despreocupada: praia, esplanadas, sunsets … e uma FIOAPAVIO que tem de manter a sua normalidade apesar dos desafios pessoais que enfrentamos. Nós estamos fechados na nossa bolha de esperança e fé deixando que nada nos contagie, focados na nossa missão.

Hoje é dia de ir visitar o Dr. Paulo Vasco na AVA e perceber se finalmente os meus ovários começaram a reagir à medicação. Escusado será dizer que estou com os nervos em franja e a ansiedade a atingir picos nunca antes sentidos. Ao meu lado ele é a minha rocha, o meu porto seguro, o que faz com que tudo valha a pena.

Parece que temos uma reação: 3 óvulos no ovário direito, o esquerdo não reagiu tao bem. É pouco mas como diz o Dr. Paulo Vasco “só precisamos de um, apenas um para termos uma gravidez”. É a isto que temos de nos agarrar… a estas pequenas palavras que representam tudo para nós. À medicação anterior vamos acrescentar mais uma injeção (até tremo por dentro sempre que oiço esta palavra… estou sempre à espera que a minha pequena coragem termine a qualquer momento). Mais uma injeção mas esta já não será de caneta… medooooo! Esta é uma pequena seringa de ar inofensivo como tantas outras que me atormentaram no passado e enquanto o meu discurso se mantinha calmo e com a convicção de que iria conseguir, por dentro estava aterrada… e este fosse o meu limite? E se estas injeções fossem mesmo uma barreira para mim?

Mais uma vez foi a Oksana a minha maravilhosa “Instrutora”. Ela não dá aso a hesitações e disse logo “vai ser fácil Sara” e eu por dentro pensava “não peço que seja fácil mas sim que eu o consiga fazer”.

Regressámos a casa com os nossos três pontinhos de esperança e a pensar que o nosso sonho podia estar ali… ao nosso alcance.

Mais uma vez recorri aos tutoriais para ver vezes sem conta qual a melhor forma de dar a nova injeção. Medo e pânico corriam-me nas veias… Eu, Sara de Sousa Ferreira, a manipular uma seringa dita “normal”. A tocar no objeto que mais pânico me provocou na vida toda. Hoje uma, depois outra e mais outra… quantas mais? Até quando? Para muitos este medo é ridículo face ao que estávamos a viver mas para mim era mesmo aterrador.

A hora era a mesma dos últimos dias. Preparei os cubos de gelo que o Dr. Paulo me sugeriu para de alguma forma anestesiar a zona onde a agulha iria perfurar, peguei nas seringas e lá fui eu para o quarto. Na sala o meu porto seguro à espera que eu o chamasse para o nosso ritual. É isso Sara, o mesmo ritual, é só mais uma pica e tá feito. Sei que tudo passou rápido e em menos de nada as duas injeções estavam dadas… dei-as em modo automático sem pensar. Perdida nas minhas orações mas concentrada no momento. Os meus pontinhos deviam estar orgulhosos da sua “mãe” por ter sido muito corajosa. Agora era repetir este momento mais 4 vezes antes de regressar à clinica.

Os dias sucederam-se e a nossa normalidade passou a ser esta… um cocktail de comprimidos, injeções, de fé e esperança. Lagrimas e orações que se misturavam sem eu dar conta. O Believe que tenho cravado na pele serviu de cábula muitas vezes… sempre que a duvida e o medo se queriam instalar.

O dia 26 de Agosto chegou lentamente, era o dia de ver como estavam os nossos 3 pontinhos. O mesmo ritual: entrar na clinica, sorrir, esperar, orar, subir ao primeiro andar, trocar palavras queridas e sabias com o Dr. Paulo Vasco, deitar na marquesa e esperar que no ecrã a magia se fizesse. La estavam eles… mais gordinhos como se pretendia. Desenvolveram-se os 3 e como seria já expectável o ovário esquerdo não quis colaborar. Era altura de marcar a punção… estava a acontecer. Iriam ser-me retirados estes pontinhos… uma parte de mim ia ser-me retirada na esperança que regressasse mais tarde. Este era o momento que tanto desejávamos nos últimos dias. A punção ficaria marcada para dia 29.

Dia 29 de Agosto era agora a nossa data mais desejada para nós. Lá fora o mundo permanecia igual mas nós estávamos cheios de esperança e fé.


(continua)

2 comentários:

  1. Princesa,
    Sinto cada letra, cada palavra, cada frase. Como me lembro dessas agulhas, desses momentos, dessas angústias, desses receios.
    Fé, como contigo, caminhou lado a lado para que tudo fosse possível, fosse possível, fosse perfeito.
    Obrigada pelos teus testemunhos, obrigada por seres assim de coração aberto e testemunhares a tua conquista e a do João.
    Bjs gostamo-nos.

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    1. Ola meu amor... acredito que cada uma terá a sua forma de gerir estas emoções. Eu ha muito que aprendi que preciso de as colocar cá fora para as aceitar, para encontrar um lugar para elas na minha vida de forma a que não me magoem ou incomodem. Todos somos diferentes e este é o meu jeito. E fico tremendamente feliz pelas mensagens que recebo de mulheres que se identificam com algumas das coisas que vou escrevendo e que encontram algum tipo de ajuda nelas. Beijos enormes <3

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