07/02/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #8

4 de Agosto


Regressados de férias e novamente com os corações cheios de esperança. Há um ano atrás também tínhamos levado esperança a banhos mas regressaríamos de mãos a abanar porque sabíamos que o que nos esperava era uma operação. Agora a missão era outra: tratamentos de fertilidade. Era isto que tínhamos em mãos, era com isto que tínhamos de lidar. Sem medo das palavras e conscientes de que a verdadeira aventura estaria prestes a começar.
Entrámos na AVA e à nossa espera estavam os sorrisos de sempre. Tudo ali nos inspira serenidade. Cada pessoa que se cruza connosco sorri e isso provoca-nos uma sensação de calma e de boas-vindas. Era hoje que começaríamos a delinear o nosso primeiro tratamento de estimulação ovárica rumo à nossa primeira FIV (fertilização in Vitro). Chegara agora o momento que eu estava a adiar dentro de mim, deveria ser agora (pensava eu) que finalmente iriamos falar das tais injeções na barriga que já andavam a habitar o meu inconsciente. Confirmou-se. O tratamento nos primeiros dias seria feito com uma caneta/injeção na barriga (o Gonal F), depois juntavam-se uns comprimidos que eu já tomara antes (o Dufine), passados uns dias acrescentaríamos mais uma injeção (o Orgalutra) que o Dr. Paulo Vasco fez o enormíssimo favor de me omitir que seriam o verdadeiro teste e não me deixou sofrer por antecipação e para terminar esta equipa fantástica de estimulação ainda apareceria mais uma caneta/injecção (o Ovitrelle). Tudo isto dado sempre à mesma hora, uma qualquer a nosso gosto, mas em que fosse garantido algum repouso após a sua administração.
O João disse logo que não me conseguiria dar as injeções com medo de me magoar. O Dr. Vasco disse que acreditava que eu iria conseguir e com a ajuda da Oksana (a maravilhosa enfermeira que nos acompanhou quase sempre nesta aventura) tudo iria parecer mais fácil. Eu estava zero confiante. Eram anos de trauma associados a seringas, sangue, vacinas e sempre com o mesmo desfecho… os malditos suores frios, a sensação do sangue todo me fugir da cabeça e o escuro que os meus olhos acabavam quase sempre por ver terminando em desmaio.
Meu deus como é que eu conseguiria? Como? Sempre soube que não seria mais nem menos do que qualquer outra mulher nestas circunstâncias ou piores e que alguma solução encontraríamos, mesmo que isso significasse ir a um centro de saúde ou hospital todos os dias para me ajudarem a fazer o tratamento.
A esta distância consigo dizer que os afetos conseguem tudo… e naquele dia eu e o Dr. Vasco trocámos o aperto de mão que formalmente trocávamos anteriormente pelos beijinhos. Acho que foi a forma dele me dizer “miúda tu consegues”. Voltaríamos 4 dias após o primeiro dia da menstruação para ver a reação do corpo.
Descemos as escadas e à minha espera estava a Oksana, uma enfermeira de sotaque de leste, maior do que eu de cara fechada e que à primeira vista nos impunha (muito) respeito. “Não julgar o livro pela capa” ouvimos tantas vezes dizer e é verdade. A Oksana é uma profissional de mão cheia que nos confere toda a confiança que nos foge, toda ela é positividade e confiança e nem nos dá aso a hesitações. Mal dei conta tinha uma caneta/injeção numa mão e uma bola de esponja na outra e já estava a picar para sentir a pressão que as duas coisas juntas produzem. Sem tempo para pensar muito. Sem complicações. No momento seguinte já estava de camisa levantada e com uma caneta (vazia) apontada à barriga. Como?? Ai!!!! E agora? Ela espetou … ela espetou-me… e eu tive de olhar. Eu tinha de ver a posição da caneta, toda eu tremia por dentro pois já me estava a imaginar a desmaiar ali aos pés da Oksana. A verdade é que não aconteceu. Vi. E repliquei. Este era a minha primeira conquista… eu acabara de me espetar e não tinha acontecido… nada! Na verdade estas canetas têm uma agulha muito muito fininha o que faz com que mal se sinta a picada, apenas temos de garantir que o líquido que temos de deixar correr é a quantidade que nos foi prescrita e que esta entra na totalidade. Irei para sempre lembrar-me da cara da Oksana com ar triunfal “eu disse que era fácil” e eu só pensava “e agora fazer isto sozinha em casa?”. Mas não era tempo para complicar. Era tempo de agradecer termos dado mais este passinho.
Saímos dali de mãos dadas e a pensar que os próximos dias teriam de ser assim… cúmplices, fortes e com a certeza de que este era o caminho certo para nós. Era este o caminho que sempre nos estivera reservado e que a meta seria o nosso sonho.
Believe! Acreditar, sempre!

2 comentários:

  1. Tens sorte, quando eu comecei não havia canetas era mesmo seringa. Tinha que colocar o produto com uma agulha grossa e depois trocar para uma agulha fina para dar a injeção.
    Uma vez estava tão nervosa que me esqueci de trocar, assim que espetei percebi o que fiz, retirei e pensei: estúpida, já estava podia ter feito assim mesmo.
    Quase em simultâneo decidi: volta a espetar, já estava mesmo!
    E voltei a pensar: Mas para quê, volta lá a tirar para colocar a agulha fina.
    Conclusão: 3 furinhos na barriga, 2 deles bem granditos, nódoas negras e no final não parava de rir por ter sido tão estúpida :)

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    Respostas
    1. Olá Isabel... não tive sorte pois infelizmente também tive de dar dessas. Nem todas as marcas usam a caneta (infelizmente). A história ainda não terminou :) beijocas

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