06/01/2017

EU, SARA, ME CONFESSO

Sabem quando o que estão a viver é tudo o que sempre desejaram mas sem saberem?

Durante muitos anos eu vivi com a certeza de que ser arquiteta era o meu sonho maior. Viver arquitetura, ver arquitetura, pensar arquitetura era tudo o que eu queria e desejava. Desde os 6 anos que era este o sonho a concretizar. Depois cresci, sempre com esse foco, fui para a António Arroio com 13 anos, fui para o ar.co, todo o caminho percorrido tinha como meta final chegar ao curso de arquitetura. Cheguei lá, fi-lo de um sopro só, sem exames  nem cadeiras deixadas para trás. Terminei o curso com uma boa media, 16. Terminei o quinto ano com uma media ainda melhor, 18. E finalmente dei por mim licenciada em arquitetura. Para se ser arquiteto o caminho ainda não estava terminado. Exerci a minha profissão por doze anos consecutivos. Aos poucos a desilusão apoderou-se de mim, não pela arquitetura porque essa nunca irá perder a capacidade de me emocionar, mas com a classe que a exerce e com todo o jogo de poder e de divas que a envolve. Com os meus pares. Com os meus colegas. O meu sonho tornou-se em algo com que já não me identificava.

Voltei-lhe as costas. Experimentei outras coisas. Cresci. Casei. E a vida mostrou-me um sonho maior, o que sendo um desejo sempre presente nunca teve as proporções que viria a tomar. O verdadeiro sonho. E voltei a arregaçar as mangas. Voltei a encher os pulmões de oxigénio e lutei. Lutámos. Agora a procura do sonho é repartida e é tudo mais fácil, mesmo quando sentimos que nos escapa.

Sabem, seria fácil, hoje, dizer que foi tudo maravilhoso e que agora que sentimos o nosso sonho dentro de nós e que não o vamos deixar escapar e que tudo o resto ficou para trás. Não! Não! Enganem-se. A felicidade que sentimos é incomensurável mas a dimensão da nossa luta não foi menor. Não fomos os únicos a passar provações e infelizmente não seremos os últimos, mas é importante lembrar de onde vimos para sermos ainda mais gratos pelo que temos à nossa espera.

Sim, ser mãe é o meu sonho. Este sim é o verdadeiro sonho que me faz lutar contra tudo e contra todos. O abandono da arquitetura levou-me à depressão (juntamente com outros fatores) a luta pela maternidade levou-me à superação. Fez-me crescer, fez-me lutar realmente pelo sonho maior. Por isso jamais apagarei tudo o que passei, tudo o que passámos, tudo o que fizemos passar (porque quem nos ama também sofre, em silencio com medo de incomodar). Nao esqueço que me olhavam como se eu fosse de papel, uma espécie de peças de dominó empilhadas de forma complexa e que ao mínimo sopro desmoronariam.

A luta conta a infertilidade ou a luta pela fertilidade, como preferirem, é dura. É muito dura. Duríssima. E coloca todos à prova. Talvez por isso e uma vez confrontados com esta palavra haja uma necessidade de encontrar palavras com que nos identifiquemos. Não queremos estar sós. Precisamos de identificação. De sentir alguma normalidade em algo que aparentemente não é normal. E eu não fui diferente... procurei palavras, procurei pessoas, procurei respostas às milhentas perguntas que se iam acumulando na minha cabeça (não as cientificas porque essas são fáceis de encontrar, mas as outras, as dos afetos). E confesso que não encontrei muitas. Pensei muito sobre isso e confesso que ainda não entendi o tabu. Não cometemos crime algum. Somos um casal cujo destino apenas nos cruzou numa fase mais avançada da vida (se é que aos 34 anos se pode falar em idade avançada, mas a verdade é que sim nesta questão da infertilidade) e que por essa razão, acima de tudo por essa razão, não tiveram a possibilidade de ser abençoados com um nascimento porque o corpo assim não o entendeu. Se a vida me ensinou algo, e atenção que esta lição é muito pessoal e é o meu lema de vida, é que apenas podemos curar o que verbalizamos. E a minha forma de filha única de "verbalizar" é escrevendo. Assim sendo, neste espaço que tem tanto de meu como de vosso, vai surgir um tópico sobre toda esta aventura que vivemos, que vivi. Será uma historia em que fui um pedacinho spoiler pois ja sabem que terminará em bem (assim o desejamos) mas uma historia verdadeira. Sem florzinhas nem rococós. Com todos os meus medos, inseguranças, frustrações, conquistas, lutas,... acima de tudo com uma honestidade crua... e se no final as minhas palavras tocarem uma pessoa que seja que está a viver esta realidade, então eu sentir-me-ei ainda mais abençoada (e olhem que estando gravida de gémeos o nível está bem elevado). Preparados para me acompanharem nesta viagem?

Brevemente #memórias de uma mãe em construção


8 comentários:

  1. Princesa

    Como te entendo! Cada palavra, cada frase, só quem passa pela INFERTILIDADE consegue entender a dor de querer um filho e não conseguir, doi, roi e volta a doer.
    A minha luta também não foi fácil mas sei que iria vencer, não desisti, lutei, lutamos e conseguimos a nossa tão desejada FILHA. A nossa MARIA.

    Vocês estão a conseguir, vocês não deixaram de lutar, vocês tiveram sempre FÉ.
    Obrigada por nos termos cruzado por aqui, não nos conhecemos fisicamente mas para mim és muito especial. Obrigado por nos dares tanto mimo.
    Gosto imenso de vocês. Beijos Gigantes, porque agora é para 4.

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    1. E o tanto que eu recebo de pessoas como tu que me enchem o coração de carinho e amor puro? vocês já fazem parte da nossa historia. Gostamos de vocês <3

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    2. Quando damos Amor recebemos Amor!

      Adoro-vos

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  2. isto ainda é só o início de um sonho... parabéns miúda!

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    1. É mesmo Andrea... depois de tantas esperas, tantos números, ainda não caímos bem em nós. Beijos enormíssimos

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  3. Preparadíssima! ;)

    E... Como entendo, a parte da arquitectura (ainda não consigo retirar o "r" antes do t...)... Tal qual!

    Quanto à outra luta... Parabéns, conseguiram! ;)

    Beijitos aos 4!

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