28/04/2016

NOSSA SENHORA PEGOU-ME AO COLO E... LEVOU-ME! #2

Eu sabia que uma das regras de ouro era descansar mas a minha cabeça teimava em fazer o dobro dos kms percorridos pelas minhas pernas e acabei por dormir pouco. O medo maior era de não conseguir colocar os ténis nos pés e assumir que a minha caminhada ficava por ali. Quis Deus e Nossa Senhora que ainda não fosse nesse dia que isso iria acontecer e os  42kms estavam à nossa espera.
Os ténis entraram e as bolhas lá se comprimiram, ajeitaram e ficaram "mais ou menos confortáveis". Partimos de Santarém com destino aos bombeiros de Pernes, onde teríamos o almoço já marcado.
A caminhada começou e por cada km percorrido eu só desejava que as dores não voltassem. Voltaram e cada vez que os meus pés tocavam o chão eu encolhia-me... rapidamente comecei a ficar com o corpo rijo e tenso. Parámos (não a meu pedido) e essa pausa foi "mortal". As pessoas maravilhosas que me acompanharam quase me obrigaram a retirar os pés de dentro dos ténis... não era bonito. Bolhas com 5 dedos... na verdade eu não tinha bolhas eu tinha autênticos reservatórios de água em cada calcanhar. Foi-me sugerido que calçasse umas havaianas com meias, sugestão de quem já o fez várias vezes e funcionou, eu estava muito reticente pois mesmo em estado normal os meus pés fazem sempre bolhas nos primeiros dias de verão em que as uso com mais regularidade. Cedi. Regressámos ao caminho pois as horas passavam e havia uma hora a respeitar.
Cada metro que eu andava pensava nas pessoas que se atiram literalmente para estrada munidas apenas da sua fé e do seu cajado pejado de imagens dos filhos, dos netos, dos seus entes queridos. Pessoas que não usam os ténis xpto para passadas pronadoras, que não sabem o que são meias técnicas, que não tomam o gel X ou Y para compensar isto ou aquilo, pessoas que apenas vão. Pessoas cuja missão é chegar. Que ingénua fui ao subestimar essas pessoas que nas suas vidas do campo andam quilómetros, que não estão sentadas 8 horas por dia atrás de um ecrã. Estas pessoas estiveram sempre presentes na minha cabeça e nas minhas orações.
Chegados a Pernes apanhámos um susto e uma das nossas companheiras de viagem teve uma quebra de tensão (no sitio certo é verdade e devidamente assistida) e teve de abdicar de fazer os últimos kms que nos faltavam para chegar a Alcanena. Tinha todos os olhos em cima de mim... e tu Sara? Porque não vais com a Ana? Acho que ainda não consigo verbalizar o que ia na minha cabeça "atrasar todo o grupo e seguir caminho? Ou ir para o hotel mais cedo e pensar no dia seguinte?". Decidi continuar pois se fosse possível e como íamos agora em estrada (relembro que fizemos grande parte do trajeto pelos caminhos de Fátima e fora de estradas de alcatrão) era fácil chamar um táxi em caso de necessidade.
Mais uma vez foram as mãos de 3 pessoas maravilhosas que voltaram a conseguir com que os meus ténis entrassem nos pés - Ana, Margarida e Nokas vocês serão pessoas que jamais esquecerei (não querendo retirar  importância aos restantes).
Alcanena era o meu objetivo e eu tinha de lá chegar. Fátima já estivera tão mais longe como é que eu iria ceder? No meio deste tormento que até vos pode parecer egoísta eu também carregava a culpa de ter trazido para esta aventura o meu amor maior. Não, eu não o forcei, mas sei que ele apenas estava ali por mim e pela importância/significado que esta aventura representava. Ele que já partira 4 vezes os pés por causa do skate também já apresentava sinais de muito cansaço. O andar ligeiro deu lugar a um andar arrastado e descompensado. Já eramos dois a sofrer.
Chegados a Alcanema havia ainda mais a agradecer à mãe de todas as mães: agradecer o facto de termos pessoas fantásticas ao nosso lado, pessoas atentas aos gestos, pessoas que tiveram aquela palavra de coragem para nos dar quando elas próprias se questionavam, pessoas que nos levaram ao destino.
Quarenta e dois quilómetros feitos. O segundo dia completo. E o medo... de novo o medo do amanha, de não dormir, de não conseguir terminar, de defraudar o resto do grupo, de ficar aquém. Restava-me a oração e o desejo de conseguir alcançar o que me propus.

(continua)
 
 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Sara és de facto uma grande amiga e uma Carangueja que não quero perder de vista. Obrigado por ter conhecido a Sara, o João, a Ana Lucas, a Rita Barral, o Nuno, a Sofia, a Ana e a Cristina. Mais uma caminhada bastante gratificante que a Mãe de Fátima me proporcionou assim como todos os outros peregrinos e a minha Comadre.

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    1. Minha qwerida não é à toa que o "unidos na fé unidos na vida" nos acompanhou desde o primeiro segundo. A minha divida de gratidão para com cada um que nos acompanhou é para sempre e as palavras serão sempre poucas para descrever o quão nos fizeram sentir bem. O nosso abraço no final da nossa jornada representa o quanto gosto de ti. Algo de muito bom estará guardado para ti <3 muitos beijinhos coloridos SSF

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