29/01/2015

O MEU HOLOCAUSTO

No dia 27 de Janeiro (há dois dias atrás) comemorou-se o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Um dia comemorado internacionalmente em que se lembram as vítimas do Holocausto, o genocídio cometido pelos nazistas e seus adeptos e que ceifou a vida de milhões de pessoas durante a II Guerra Mundial.

Há uns anos atrás quando visitei Praga fui confrontada com esta realidade. Com uma realidade que é um bocadinho distante de nós pois apenas nos cruzámos com ela nos livros que lemos ou imagens que vimos. Nunca a experimentámos. Nunca a vivemos. Nessa viagem foi a primeira vez que este acontecimento atroz se revelou aos meus olhos. Impossível voltar igual. 


A comunidade judaica de Praga é a mais antiga da Europa e o Bairro Judeu existe desde 1179, ano em que o Papa Inocêncio III decretou que os cristãos deveriam afastar-se dos judeus. A comunidade judaica viveu durante 700 anos confinada a um gueto cercado por um muro que só foi derrubado em 1848, sem contudo por fim aos conflitos. Mas, nada disso se comparou à pior de todas as tragédias, o Holocausto. Enquanto a maioria dos lugares judaicos no resto da Europa eram sistematicamente destruídos, o Bairro Judeu, Josefov, foi preservado pelos nazistas que pretendiam usá-lo como um museu sobre o povo que exterminaram. Este bairro é hoje um dos pontos principais do turismo em Praga e por isso seria impensável não ir conhecer esta área e um pedaço da historia que mudaria a humanidade.

A primeira sensação que tive quando virei a esquina e me aproximei desta zona foi de que tudo ali era diferente. A presença de um numero assinalável de corvos conferia-lhe uma atmosfera única. Não fui capaz de tirar uma única fotografia. Bloqueei. Fiquei vidrada, sem acção. A minha máquina fotográfica não fez um único clique desde que entrei até que saí dali. Percorrer as sinagogas, ver nomes infindáveis escritos na pedra (para que aqueles cujas vidas foram ceifadas não caiam em esquecimento), pensar que aqueles nomes não são meros exercícios de escrita mas que representam vidas perdidas e o confronto final com o cemitério, tudo provocou em mim uma sensação de angustia inimaginável. Mais de 12000 lápides de épocas diferentes, que "escondem" um numero incontável de corpos (pois muitos foram colocados em varias camadas do solo). Chocou-me. Muito. Chorei. Não consegui escrever nada no meu diário de viagem. Não consegui tirar uma única fotografia. Porém registei tudo na minha memoria e no meu coração. E pensei: "eu estaria aqui se vivesse naquele tempo. o meu nome é sara (um nome hebraico), e sou morena de cabelo preto e olhos castanhos. o meu lugar seria aqui".

Desta visita apenas trouxe um livro. Um livro que durante muito tempo não consegui ver. Abria-o via as primeiras paginas e parava. As lágrimas impediam-me de continuar. Um livro adquirido no museu dos judeus , ZIDOVSKÉ MUZEUM PRAHA, e cujo titulo é "simplesmente" - I have not seen a butterfly around here". Se contextualizarmos esta frase à época em que foi escrita e se pensarmos que foi escrita por uma criança então este será um dos títulos mais dolorosos com que nos confrontámos. Este livro contém desenhos e poemas escritos unicamente por crianças que estiveram no campo de concentração de Terezín. Uns ficaram ali mesmo, em Terezín, outros sobreviveram mas os seus testemunhos são dolorosos de ler.


Fotos cedidas por colegas de faculdade que me acompanharam nesta viagem

Fotos cedidas por colegas de faculdade que me acompanharam nesta viagem
O livro


texto de autoria EVA PICKOVA, 15.051929 - 18.12.1943

texto de autoria ALENA SYNKOVÁ, 24.09.1926 - SURVIVED
O mundo mudou depois deste acontecimento e é nossa responsabilidade nao deixar que atrocidades como estas caiam no esquecimento.

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