Há muito tempo que pretendo
escrever sobre isto. Mas é um tema sensível. As palavras têm de ser escolhidas,
têm de ser pensadas. Não posso pegar no teclado e gritar para o computador. Não
posso! Há muito tempo que quero falar daquele desejo. O último e o derradeiro
dos desejos – o de não querer mais.
Ontem o Pedro (um Pedro qualquer
para quase todos e o Pedro para os que o amam) decidiu que não queria mais.
É curioso como, hoje, não o
conhecendo, tenho esta sensação de que seriamos próximos. Eu andei por ali, eu
percorri os caminhos tortuosos que ele percorreu. Perdi-me nas mesmas encruzilhadas
que a vida nos colocou. Sorri com a mesma energia que ele sorria dando a falsa
imagem de que viveria numa felicidade extrema. Fomos mestres do disfarce. Fui
actriz tal como ele é actor. Também eu cantei quando me apetecia gritar. Também
eu soltei uma gargalhada quando me apetecia chorar como se fosse a primeira
vez. Também eu vivi num mundo tão escuro, tão escuro, que toda a escuridão existente
entre nós era luz.
É fácil julgar, é tão fácil apontar
o dedo, é tão fácil criticar mas não é fácil viver neste mundo de sombras.
Naquele dia eu também não queria
mais. Sem despedidas, sem cartas, sem medo do que estava do outro lado, apenas
com a certeza de que não queria mais. No mesmo dia em que a minha mãe, mulher
de hábitos e rotinas, teve de se esquecer de algo e sentir a necessidade de
voltar atrás. Naquele dia tudo mudaria. Eu mudei. Eu gritei. Eu desejei sair
dali. Eu quis mais. Eu pedi ajuda. Deixei cair a mascara e revelei todas as
minhas trevas. Sem medo da crítica e do julgamento revelei o lado mais negro (o
único) que habitava em mim. Eu quis mais naquele dia.
Eu, hoje, quero muito.
Quero tudo. Quero viver, rir, chorar, sonhar, ..., tudo! Mas não me esqueço
daquele momento. Vivo com a certeza de que se naquele dia a minha mãe não se
tivesse esquecido de algo aquele teria sido o meu ultimo desejo – o de não
querer mais.