18/01/2014

PALAVRAS QUE NUNCA TE DISSE...

Há muito que te queria escrever mas as palavras atropelavam-se e congestionavam-se na minha garganta. Os meus olhos ficavam embargados. É difícil conversar contigo agora que não te tenho por perto. Na verdade, sempre foi. A vida faz-nos esconder atrás de tarefas que fingimos serem indispensáveis à nossa sobrevivência. E tu, sempre foste perito nisso, nem mesmo quando te mandaram parar tu obedeceste. Viveste o teu sofrimento, viveste o sofrimento dos outros e provocaste, muito, sim também o provocaste, e muito. Aprendi a amar-te na ausência, aprendi a amar-te sempre que corria ao teu encontro. Sim! Sabes bem que se não te procurasse dificilmente sairias ao meu encontro. São dores que ficam, são dores que aprendi a esconder de mim própria. Mas não são só as minhas dores que me atormentam, são as dores que incutiste em quem amo, as dores que provocaste nos seres intocáveis da minha vida.
Odeio-te com a mesma força com que te amo! E é este amor que me faz desejar que estivesses vivo para que não causasses tanta dor em quem só te quis bem. 
Odeio-te por nunca lhe teres dado o valor que merecia, que merece e merecerá sempre! 
Odeio-te por não lhe teres dado aquele abraço que sempre ansiou, algo que lhe pertencia por natureza, por sangue. Nunca te pediu nada, simplesmente ficou à espera. Esperou, esperou e tu partiste.. ela ainda ficou à espera.
Odeio-te por te amar tanto. Por também eu ter ficado à espera, de ti, das tuas palavras, de tudo o que deste a outros e não a mim, dos jantares a que faltaste, de todos os beijos que pagaste para não me dar...
Amo-te. Ainda te amo. Amo-te tanto! 
Tenho saudades! Tantas saudades! Saudades do que não vivi e saudades do que nunca terei contigo. Sinto a tua falta, das tuas rugas, da tua pele queimada pelo sol, do teu olhar cansado, das tuas mãos com os calos que a vida te presenteou.
Amo-te tanto meu avô!

Este texto foi escrito em 2006, 1 ano depois do meu avô ter partido. Talvez se fosse escrito hoje as palavras fossem outras, mas a dor e a saudade mantém-se intocáveis.




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