29/01/2014

EU HERDEI UMA TIA

Eu herdei uma tia. A mais querida das tias. Não a escolhi. Ela não me escolheu.
Esta tia nasceu especial, com aquilo que para uns seria uma limitação, mas que para quem como eu gosta dela, a torna a pessoa mais especial de todas. Eu tenho mau feitio ela tem oligofrenia.
Não temos conversas eruditas, nem debatemos os temas da actualidade mas temos a alegria de trocar os sorrisos mais sinceros e honestos que existirão. E digo isto sem qualquer tipo de dúvida. Quando os nossos olhos se cruzam ela sorri para mim e eu retribuo da forma mais bonita que conheço.
Não a consigo ver todos os dias mas dizem, e eu acredito, que pergunta por mim. Manda beijinhos e o meu coração emociona-se e fica tão feliz com isso que nem consigo exprimi-lo por palavras.
Eu herdei uma tia e ela herdou uma sobrinha. Nem sempre somos sobrinhos das nossas tias. O sangue é-nos imposto mas o coração é autónomo e também faz as suas escolhas. E o meu escolheu-a, tal como eu sei que ela me escolheu.
Hoje estava preparada para a ir visitar, já ia a caminho, quando mais uma vez, o meu telefone vibrou "não vás ao lar, a tia vai para o hospital" . Ai vou vou, pensei. Tinha de ir porque ela precisava tanto do meu olá como eu precisava do sorriso que ela me faz quando reconhece um rosto querido. Tinha de ir porque ela precisava tanto de ver um rosto familiar como eu precisava que ela soubesse que eu estava ali.
Agora, 3 horas depois (acabaram por ser 7) de uma espera desesperante continuamos aqui, no hospital, de novo. Eu recuso-me a habituar a este ritual dos últimos meses. Ninguém se deveria habituar às salas de espera dos hospitais e eu nunca me vou habituar. Eu não me vou habituar porque se existe alguém lá em cima esse alguém tem de perceber que eu herdei uma tia e passei muito pouco tempo com ela. Eu ainda tenho muitos sorrisos reservados para dar e ela muitos para receber.
Eu herdei uma tia especial e não a quero ver partir.
Não já! Por favor.



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